Umas das figuras mais emblemáticas da televisão brasileira
Vera Fischer é uma das atrizes brasileiras mais icônicas e talentosas, com uma carreira que abrange décadas no cinema, teatro e televisão. Nascida em 27 de novembro de 1951, em Blumenau, Santa Catarina, Vera iniciou sua carreira no mundo do entretenimento como modelo, coroada Miss Brasil em 1969. Esse título lhe deu notoriedade nacional, mas foi apenas o início de uma trajetória repleta de sucesso e reconhecimento.
No início dos anos 70, Vera fez sua estreia no cinema com o filme "Sinal Vermelho - As Fêmeas", marcando o início de sua carreira como atriz. Nos anos seguintes, ela consolidou sua posição no cinema brasileiro, participando de filmes importantes e trabalhando com diretores renomados. Seus papéis em filmes como "Amor Estranho Amor" (1982) e "A Super Fêmea" (1973) são notáveis, não apenas pela atuação, mas também pelo modo como desafiavam as normas sociais da época, especialmente em relação à sexualidade e ao papel da mulher na sociedade.
TRÊS VEZES MISS
Engana-se quem pensa que Vera Fischer passou a ser reconhecida nacionalmente ao entrar na televisão. Tudo começou quando ela ganhou o concurso de Miss Blumenau. Após a vitória, concorreu ao concurso estadual e venceu mais uma vez a seletiva, se tornando a Miss Santa Catarina. Mas foi no Maracanazinho em 1969 que aos 17 anos se tornou a Miss Brasil.
Após a coroa obtida, viajou para os EUA parar concorrer no mais alto patamar o Miss Universo. Naquele ano quem ficou com o título foi a filipina Glória Dias. Mas foi somente com todo este processo que finalmente conseguiu sua liberdade e foi morar no Rio de Janeiro, já que seu pai era bastante autoritário e um “nazista convicto” que a fazia ler diariamente o livro “Mein Kampf” escrito por Adolf Hitler, no qual expressa suas ideias antissemitas, anticomunistas, antimarxistas, racialistas e nacionalistas de extrema-direita, então adotadas pelo Partido Nazista, fato revelado na autobiografia intitulada “Vera: a pequena Moise”, lançado em 2007 pela editora Globo.
Uma curiosidade sobre sua ida aos EUA, é referente a sua idade, pois para participar do Miss Universo era preciso ter no mínimo 18 anos. Como tinha apenas 17 anos, a solução encontrada foi falsificar os documentos da jovem. “Durante muitos anos meus passaporte e carteira de identidade tiveram um ano a mais. Foi divertido”, revela a atriz. Com a vitória de Miss Brasil, conseguiu o sonho da liberdade e poder deixar sua terra natal, Blumenau, e ir morar na cidade Maravilhosa.
A DAMA DA TV
A transição para a televisão veio na década de 1980, quando Vera Fischer começou a trabalhar em novelas da Rede Globo, a maior emissora de TV do Brasil. Foi na televisão que Vera alcançou um novo patamar de fama e reconhecimento. Seus papéis em novelas como "Mandala" (1987-1988), onde interpretou Jocasta, e "Laços de Família" (2000), interpretando Helena, são lembrados até hoje como alguns de seus trabalhos mais memoráveis. Sua atuação em "Laços de Família", especialmente, é considerada uma das melhores de sua carreira, com cenas emocionantes que capturaram o coração do público brasileiro. Em 2000, ganhou o prêmio Melhores do Ano do Domingão do Faustão, na categoria Melhor Atriz, por sua atuação como a protagonista de Laços de Família.
Na novela "O Clone", exibida pela Rede Globo entre 2001 e 2002, Vera Fischer deu vida à personagem Ivete, marcando sua participação em uma das tramas mais inovadoras e bem-sucedidas da televisão brasileira. Embora sua personagem não estivesse no centro da história principal, que explorava temas complexos como clonagem, dependência química e choques culturais, Ivete se destacou com sua personalidade vibrante e humor. Como dona de um brechó no Rio de Janeiro, a personagem de Fischer serviu como um alívio cômico na novela, trazendo leveza e alegria para a trama densa. A atuação de Vera Fischer em "O Clone" foi uma demonstração de sua versatilidade como atriz, capaz de transitar entre o drama intenso e a comédia com facilidade, contribuindo significativamente para o sucesso e a memorabilidade da novela.
TEATRO
Além do cinema e da televisão, Vera Fischer também teve uma carreira significativa no teatro. Ela participou de várias peças, mostrando sua versatilidade como atriz e sua capacidade de interpretar uma ampla gama de personagens. O teatro ofereceu a Fischer um espaço para explorar diferentes facetas de sua arte, desde comédias até dramas intensos. Irreverente, obteve sucesso de crítica e bilheteria.
Sua primeira vez no palco foi em 1983 com “Os Desinibidos” de Roberto Athayde e direção de Aderbal Freire Filho. Logo, emendou êxitos como, “Macbeth” de William Shakespeare e direção de Ulysses Cruz em 1992; “Desejo” de Eugene O'Neill e também com direção de Ulysses em 1993; “A Primeira Noite de um Homem”, de Charles Webb, com direção de Miguel Falabella em 2004 após protagonizarem a novela “Agora é que são elas”; Relações Aparentes, de Alan Ayckbourn com direção de Ary Coslov em 2015; “Quando Eu For Mãe Quero Ser Desse Jeito”, de Eduardo Bakr com direção de Tadeu Aguiar em 2019; entre outros diversos títulos que ao contabilizados somam mais de 10.
UMA DEUSA NUA
Vera Fischer consolidou ainda mais sua posição como ícone da cultura brasileira ao estampar a capa da revista Playboy em duas ocasiões memoráveis, em 1982 e novamente em 2000. Essas aparições na Playboy não apenas destacaram sua beleza e sex appeal, mas também simbolizaram seu status como um símbolo sexual da era, desafiando normas conservadoras e promovendo uma imagem de mulher forte e independente. A primeira capa de 1982 chegou em um momento crucial de sua carreira, consolidando-a como uma das principais divas do cinema e da televisão brasileiros. Já a edição de 2000, veio para reafirmar sua eterna relevância e apelo junto ao público, mostrando que a atratividade e o charme não têm idade. Ambas as edições tornaram-se marcos culturais, celebrando não apenas a beleza física, mas a coragem de Vera Fischer em expressar sua liberdade e individualidade, aspectos que a tornaram um ícone atemporal no Brasil.
A participação de Vera Fischer no filme "Amor Estranho Amor", lançado em 1982, ao lado de Xuxa Meneghel, permanece como um dos momentos mais controversos e discutidos de sua carreira cinematográfica. O filme, que se passa nos anos 1930, explora temas complexos de sexualidade e poder, apresentando Vera no papel de Anna, uma figura sedutora envolvida em um ambiente de sensualidade e tabus. A polêmica maior, contudo, recai sobre a participação de Xuxa, na época ainda não consagrada como a Rainha dos Baixinhos, que aparece em cenas de conotação sexual com um menor. "Amor Estranho Amor" causou grande alvoroço público e críticas à época de seu lançamento, e eventualmente tornou-se um filme cult, em parte devido às futuras trajetórias de sucesso de Vera Fischer e Xuxa.
A obra é frequentemente citada em discussões sobre os limites da arte e da expressão, e a atuação de Fischer, juntamente com a de Xuxa, sublinha a coragem e a disposição das atrizes em explorar personagens complexas e desafiadoras, marcando de forma indelével suas carreiras no cinema brasileiro. No mesmo ano, Vera ganhou dois prêmios de melhor atriz por “Amor Estranho Amor”, de Walter Hugo Khouri.
IMORTALIZADA NAS CAPAS
Vera Fischer não só brilhou nas telas como também estampou capas de CDs das trilhas sonoras de novelas icônicas, solidificando seu status de musa da cultura pop brasileira. Em "Mandala", novela de 1987, Vera interpretou a protagonista Jocasta, inspirada na mitologia grega, cuja beleza e intensidade dramática foram imortalizadas na capa do álbum da trilha sonora nacional. A imagem de Fischer, capturando a essência mítica e a complexidade de sua personagem, serviu para evocar a atmosfera enigmática e as temáticas profundas exploradas na trama. Anos depois, em 2000, ela voltou a graciosamente adornar a capa do CD de "Laços de Família" nacional, novela em que interpretou Helena, uma mulher forte e determinada, em meio a um enredo que abordava relações familiares, amor e sacrifício. A presença de Vera Fischer nas capas desses CDs não apenas destacou seu papel central nessas histórias, mas também eternizou sua imagem no panorama cultural brasileiro, vinculando-a indissoluvelmente às emoções e memórias evocadas pelas memoráveis trilhas sonoras dessas novelas.
Frequentemente, Vera compartilha em seu Instagram oficial fotos com joias audiovisuais: seus boxes de séries. Entre os títulos mais famosos estão: Friends, Game of Thrones, Dexter, Under the Dome, entre outros. Os fãs, é claro, interagem e comentam o bom gosto da atriz.
Outro dia, Vera também postou a capa de um dvd lançado da qual fez parte do elenco, a minissérie Agosto. Inclusive, a atriz já estampou capa de três boxes da época em que a Globo Marcas lançava seus produtos em mídias físicas, como Agosto, Riacho Doce e Desejo.
UMA FIGURA EMBLEMÁTICA
A vida pessoal de Vera Fischer também esteve sob os holofotes, enfrentando desafios que incluíram questões de saúde e relacionamentos. Apesar desses obstáculos, ela nunca deixou que esses aspectos interferissem em sua carreira profissional, mantendo-se sempre como uma figura respeitada e admirada no meio artístico.
Vera Fischer é um exemplo de resiliência e talento. Sua contribuição para a arte brasileira vai além de seus papéis memoráveis; ela também quebrou barreiras e desafiou estereótipos, abrindo caminho para gerações futuras de atrizes no Brasil. Sua carreira é um testemunho do seu talento indiscutível e da sua capacidade de se reinventar, permanecendo relevante e querida pelo público ao longo dos anos.
A trajetória dela é marcada por inúmeras conquistas e por um legado indelével no cenário cultural brasileiro. Sua paixão pela arte e sua dedicação ao trabalho a transformaram em uma das figuras mais emblemáticas e respeitadas da dramaturgia nacional, inspirando não apenas outros atores e atrizes, mas também o público que teve o prazer de acompanhar sua carreira ao longo das décadas.
■ Por Richard Günter
Jornalista, pós-graduado em roteiro audiovisual e graduando de cinema
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