“A cada vez que a porta do quarto se fechava com aquele som definitivo, não era o arrependimento que me visitava. Era algo mais ardiloso. Era a vingança”
Na penumbra do meu quarto, entre as sombras que dançavam na parede ao ritmo da luz que se infiltrava pela janela, me encontrava eu, novamente em castigo. “Para pensar no que fiz”, diziam eles, os grandes juízes da moral e do comportamento adequado. Mas, oh, quão longe estavam de compreender os verdadeiros meandros da mente de uma criança condenada ao exílio em seu próprio quarto.
A cada vez que a porta do quarto se fechava com aquele som definitivo, marcando o início de mais uma sessão de reflexão forçada, não era o arrependimento que me visitava. Era algo mais ardiloso. Era a vingança que, como uma velha amiga, vinha se sentar ao meu lado, sussurrando ideias e planos mirabolantes aos meus ouvidos ainda não maduros.
Era curioso como, em tais momentos, a criatividade florescia em minha mente jovem. O castigo, destinado a ser um período de introspecção e aprendizado, transformava-se em uma oficina de engenhocas de travessuras e estratégias de pequenas rebeliões. A ironia de tudo isso era palpável: em vez de me corrigir, o castigo me transformava em um pequeno maestro da desordem, um arquiteto de planos tão inocentes quanto diabólicos.
Não me entendam mal. Eu era uma criança como qualquer outra, com meus momentos de doçura e minhas explosões de raiva infantil. Mas havia algo naquele processo de isolamento e suposta reflexão que me fazia virar as costas para a lição esperada e, em vez disso, abraçar a arte da vingança - uma vingança nunca verdadeiramente realizada, mas infinitamente planejada.
Os adultos olhavam de fora, convencidos de que seu método era infalível, que o silêncio do meu quarto era um sinal de minha batalha interna com a culpa e o arrependimento. Eles não viam a chama da resistência que ardiam em meus olhos, nem podiam imaginar as tramas que se desenrolavam em minha mente fértil.
Com o tempo, cresci, como todos inevitavelmente fazemos. Os planos de vingança deram lugar a reflexões mais maduras, à compreensão de que a verdadeira força não reside em revidar, mas em entender e perdoar. Mas aquelas sessões solitárias de castigo permaneceram comigo, não como recordações de arrependimento, mas como lembranças de um espírito indomável que, mesmo nas circunstâncias mais desfavoráveis, encontrava uma maneira de voar.
Assim, através desses momentos de isolamento forçado, aprendi não apenas sobre a natureza complexa do comportamento humano, mas também sobre a importância da compreensão, da comunicação e da empatia. Afinal, é possível que, em algum lugar lá fora, haja outra criança sentada em seu quarto, planejando sua próxima grande vingança, apenas esperando por alguém que, em vez de castigá-la, tente realmente entendê-la.
■ Por Richard Günter
Jornalista, pós-graduado em roteiro audiovisual e graduando de cinema
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