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Conto: Dizem que a gente se apaixona de verdade só uma vez na vida

Atualizado: 2 de mar.

"O coração do jovem, imerso em um oceano de amor, desejava nada mais do que mergulhar nas profundezas dessa conexão, ansiando por um amor que fosse recíproco, um porto seguro onde poderia ancorar sua alma"


Conto: Dizem que a gente se apaixona de verdade só uma vez na vida - Autor: Richard Günter

Na tapeçaria da vida, cada fio entrelaça uma história, e algumas dessas histórias são tingidas com as cores vibrantes do amor, mesmo quando o desenlace é marcado por tons de dor e saudade. A ideia de que nos apaixonamos verdadeiramente apenas uma vez na vida é um tema que desperta curiosidade e reflexão, especialmente quando vivenciado na pele e na alma, como é o caso de um amor não correspondido que aqui se desenrola.


Era uma vez, em um capítulo vibrante da juventude, onde o coração se abre como uma flor ao primeiro raio de sol da manhã, que se deu o encontro de dois seres em fases distintas de suas vidas. Um jovem, recém-saído da adolescência, encontrou em um homem maduro não apenas uma paixão, mas um universo inteiro de sensações e aprendizados. Havia nele algo que transcendia a mera aparência ou as palavras ditas ao vento; havia uma essência que despertava o mais profundo dos sentimentos, uma conexão que parecia desafiar o tempo e o espaço.


No início, esse amor se apresentava como um jardim de rosas, onde cada momento compartilhado era um pétala a florescer, revelando cores, aromas e texturas que embriagavam a alma. Mas, assim como a mais bela das flores tem seus espinhos, o amor que florescia entre eles estava fadado a enfrentar as tempestades que se anunciavam no horizonte.


O homem maduro, com seus trinta e poucos anos, carregava em si uma sede de viver que se manifestava em sua busca por independência e novas experiências. Enquanto isso, o coração do jovem, imerso em um oceano de amor, desejava nada mais do que mergulhar nas profundezas dessa conexão, ansiando por um amor que fosse recíproco, um porto seguro onde poderia ancorar sua alma. No entanto, a realidade se mostrava mais complexa, e o que parecia ser um encontro de almas gêmeas revelou-se um labirinto de sentimentos não correspondidos.


A dor da rejeição é uma tempestade que arrasta consigo sonhos, esperanças e pedaços do próprio ser. O jovem se viu navegando em mares turbulentos, onde o amor que dedicava ao professor dos olhos claros era um farol que se apagava lentamente diante da indiferença. Cada momento de alegria compartilhada se transformava em memória, cada abraço aconchegante se tornava um lembrete daquilo que nunca seria plenamente seu.


Transbordando de um amor tão intenso quanto sofrido, ele canalizou a tempestade de emoções que o consumia em uma expressiva torrente criativa, dando vida a canções que ecoavam seu desespero, poesias que sangravam sua dor, e romances onde cada página era uma janela para sua alma torturada, que ansiava, acima de tudo, por ser compreendida e, talvez, curada.


Com o tempo, a dura realidade de um amor não correspondido exigiu uma escolha: afundar-se na tristeza ou encontrar forças para se reinventar e seguir adiante. Foi assim que, diante do abismo da dor, o jovem decidiu recomeçar. Mudar de ambiente, distanciar-se fisicamente daquele que foi seu amor, seu exemplo, sua maior alegria e, ao mesmo tempo, sua mais profunda tristeza, tornou-se um passo essencial na jornada de cura.


Ao deixar para trás a cidade que respirava memórias de um amor perdido, o jovem começou a compreender que o amor verdadeiro não se mede pela reciprocidade, mas pela profundidade com que é sentido. Aprende-se que amar pode significar soltar as mãos, liberar o outro para que siga seu caminho, enquanto se busca a própria felicidade.


A crônica desse amor não correspondido traz à luz uma verdade universal: que o coração humano é capaz de amar profundamente, mesmo quando esse amor não é partilhado. E, paradoxalmente, é nesse desapego, nessa capacidade de amar sem possuir, que residem a beleza e a pureza do amor verdadeiro.


Talvez, de fato, só nos apaixonemos verdadeiramente uma vez na vida, não porque nos faltem oportunidades de amar novamente, mas porque alguns amores deixam marcas indeléveis, ensinamentos que nos transformam e uma memória de conexão tão profunda que se torna o padrão pelo qual todos os outros amores são medidos.


O jovem, agora distante, ainda se pega revivendo os momentos passados ao lado de seu primeiro grande amor. Essas lembranças, embora tingidas de saudade, carregam consigo a certeza de que amar, mesmo sem ser amado de volta, é um dos atos mais corajosos e transformadores que o ser humano é capaz de realizar. É no reconhecimento da impermanência e na aceitação da dor que se encontra a verdadeira essência do amor.


Ambos partiram de uma mesma origem, enraizados no sul do país, onde os contornos da vida pareciam desenhar-se com mais clareza sob o céu vasto e as paisagens que mudam com as estações. As memórias de um amor vivido naquelas terras permanecem imortalizadas no tempo, eternas testemunhas de um capítulo repleto de emoções intensas e aprendizados profundos.


A ironia do destino os levou a lugares tão emblemáticos quanto suas próprias jornadas interiores. O romântico, aquele cujo coração transbordava de amor e esperança, encontrou seu novo lar no calor da Cidade Maravilhosa. O Rio de Janeiro, com suas praias ensolaradas, seu ritmo vibrante e sua natureza exuberante, pareceu acolher esse espírito apaixonado, oferecendo-lhe um cenário perfeito para abrir as asas e explorar as possibilidades infinitas de renascimento e felicidade.


Por outro lado, o outro, cuja independência e desejo de liberdade eram tão marcantes quanto a frieza com que guardava seus sentimentos, foi guiado para uma cidade que espelhava a temperatura de seu próprio coração: uma cidade gélida da Alemanha.


Assim, enquanto um mergulha na vivacidade e no calor humano do Rio, vivenciando cada dia como uma nova página em branco pronta para ser preenchida com histórias de renovação e alegria, o outro, na quietude germânica, trilhou um caminho inesperado de transformação pessoal. Em um cenário onde o frio é tão presente quanto a beleza silenciosa das paisagens nevadas, ele encontrou não apenas refúgio, mas também a oportunidade de reescrever sua própria história. Casou-se e formou uma família, cercado pelo calor de um lar que contrasta com o clima externo. Teve filhos, cujas risadas e passos ressoam como ecos de uma vida preenchida com novos significados e propósitos, provando que até mesmo os corações mais resguardados e independentes podem encontrar caminhos para o amor verdadeiro e a felicidade compartilhada.


Cada um, à sua maneira, descobriu novas formas de amor e pertencimento, redefinindo o que significa amar e ser amado, e mostrando que, apesar das distâncias e das diferenças, é possível encontrar completude. Essa jornada de contrastes, do calor carioca à frieza europeia, revela não apenas a capacidade de mudança e adaptação do ser humano, mas também a complexidade do amor e das relações humanas.


Imerso em um amor de tal magnitude que se gravou indelével na tessitura do seu ser, ele carrega consigo a marca eterna desse sentimento avassalador, uma lembrança tão profundamente entranhada em sua essência que, por mais que o tempo avance e as estações do coração se alterem, jamais será esquecida, permanecendo como um farol solitário na imensidão de sua memória, iluminando cada sombra de esquecimento com a luz inextinguível de um amor que definiu a sua existência e seu parâmetro de amar verdadeiramente.

 

■ Por Richard Günter

Jornalista, Escritor, pós-graduado em Roteiro Audiovisual e graduando de Cinema

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