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Conto: De volta pra casa

"Veralice, agora ao lado de Antônio, caminhava rumo a um destino desconhecido, com o coração transbordando de esperança, mas também com um sutil temor do que o futuro reservava"


Conto: De volta pra casa - Autor: Richard Günter

No coração pulsante de 1985, Veralice, uma mulher de beleza atemporal e espírito livre, encontrava-se em um dilema que desafiava os costumes de seu pequeno bairro. Prometida desde jovem a se casar com Rosalvo, um homem de fala mansa e atitudes reservadas, ela nunca questionou as expectativas traçadas para sua vida. Rosalvo era um bom homem, de caráter indubitável, mas a chama do amor nunca ardeu verdadeiramente entre eles. O relacionamento era marcado por uma calmaria constante, sem ondas de paixão ou profundas conversas noturnas.

 

Foi em um evento social da cidade que Veralice cruzou caminhos com Antônio Carlos, um charmoso empresário do ramo televisivo. Ele possuía um brilho no olhar e um sorriso que cortava a monotonia da existência cotidiana, trazendo consigo promessas de aventuras e uma vida repleta de emoções. Antônio, com sua lábia sedutora e promessas de um futuro radiante, não tardou a encantar Veralice. Ele falava de amor com a facilidade de quem narrava contos de fadas, prometendo casamento e uma existência recheada de luxo e felicidade.

 

A decisão de Veralice não foi fácil. Deixar Rosalvo significava romper com as expectativas de sua família e enfrentar os olhares julgadores de uma sociedade que não perdoava facilmente a quebra de promessas matrimoniais. Contudo, o coração de Veralice ansiava por algo mais, uma chama que Rosalvo, com toda a sua timidez e previsibilidade, jamais conseguiu acender.

 

Ao escolher Antônio Carlos, Veralice mergulhou em um futuro incerto, deixando para trás não apenas Rosalvo, mas também a segurança de uma vida que, embora previsível, era confortável. A decepção de Rosalvo foi profunda, marcada não apenas pela perda de um amor, mas pelo desmoronar de sonhos compartilhados e planos cuidadosamente tecidos ao longo de anos.

 

Veralice, agora ao lado de Antônio, caminhava rumo a um destino desconhecido, com o coração transbordando de esperança, mas também com um sutil temor do que o futuro reservava. A decisão estava tomada, e não havia volta. O que começou como um encontro casual em uma noite qualquer da cidade pequena, desdobrou-se em uma jornada de autoconhecimento, amor e, acima de tudo, coragem para seguir o próprio coração.

 

A nova vida de Veralice, repleta de luxo e promessas cumpridas, parecia um conto de fadas tornado realidade. Abandonando o subúrbio onde crescera, ela se encontrou imersa na opulência da zona sul do Rio de Janeiro, onde cada dia era um desfile de novidades e prazeres. Antônio Carlos cumpriu sua promessa, proporcionando a ela tudo o que o dinheiro poderia comprar. Veralice vivia como uma princesa em seu castelo moderno, adornada com joias e vestidos que jamais imaginou possuir.

 

A felicidade do casal parecia selada com o nascimento de César, o primogênito, seguido de perto pelo caçula, Marcos. Esses momentos deveriam ser os mais felizes na vida de Veralice, uma consolidação de sua nova família. No entanto, foi durante a gestação de Marcos que sombras começaram a se formar no paraíso de Veralice.

 

Antônio Carlos, outrora atencioso e apaixonado, começou a se distanciar, envolvendo-se mais intensamente em seus negócios e frequentemente chegando tarde em casa. As desculpas eram sempre relacionadas ao trabalho, mas um silêncio frio e calculista substituiu as conversas calorosas e os planos para o futuro. Veralice, com sua intuição aguçada, sentia que havia algo mais nas entrelinhas das ausências de Antônio. Ela começou a suspeitar de infidelidades, temendo que houvesse outra mulher - ou até mesmo outras mulheres - dividindo a atenção de seu marido.

 

As dúvidas e a insegurança corroíam o coração de Veralice. Ela se via presa em um ciclo de luxo e desilusão, onde as paredes de sua mansão pareciam esconder segredos obscuros. O nascimento de Marcos não trouxe o esperado reavivamento da paixão entre o casal; pelo contrário, apenas aprofundou o abismo que se formava entre eles. Veralice, agora mãe de dois filhos, lutava internamente para manter a aparência de uma vida perfeita, enquanto sua alma clamava por verdades que ela temia descobrir.

 

A transformação de Antônio Carlos de um marido amoroso para um estranho em sua própria casa marcou o início de um período turbulento na vida de Veralice. O que antes era um sonho agora se desenrolava como um pesadelo silencioso, com Veralice presa em um dourado cárcere de dúvidas e medos, contemplando o preço de suas escolhas passadas.

 

À medida que Marcos se aproximava de seu primeiro aniversário, um vislumbre de normalidade parecia retornar ao relacionamento de Veralice e Antônio Carlos. Eles retomaram sua intimidade, um passo que Veralice esperava que os reconectasse e curasse as feridas abertas pela distância e suspeitas que haviam se instaurado. No entanto, essa nova fase trouxe consigo revelações que abalariam ainda mais o já frágil equilíbrio de seu casamento.

 

Antônio Carlos, carregando consigo ideias que transcendiam o convencional, começou a introduzir temas ousados e controversos em suas conversas íntimas. Filmes pornográficos, voyeurismo e cuckold não eram apenas mencionados casualmente; tornaram-se assuntos recorrentes, alimentando as fantasias que ele desejava vivenciar. A princípio, Veralice tentou manter a mente aberta, pensando que poderia ser apenas uma fase passageira ou uma tentativa de quebrar a monotonia que se instalara entre eles.

 

Contudo, o interesse de Antônio nessas práticas se intensificou, transformando-se em uma insistência para que Veralice participasse de atos sexuais com outros homens enquanto ele observava. O que começou como um desconforto para Veralice rapidamente se tornou intolerável. Ela sentia que essas exigências ultrapassavam os limites do respeito e da consideração que deveriam fundamentar seu casamento. A ideia de se submeter a tais atos para satisfazer os desejos voyeurísticos de Antônio a repugnava, confrontando-a com um aspecto do marido que ela mal reconhecia ou compreendia.

 

A insistência de Antônio nesses desejos peculiares colocou Veralice em uma posição insustentável. Ela se via diante de um homem que, apesar de compartilhar sua vida e a paternidade de seus filhos, parecia um estranho governado por impulsos que ela não podia aceitar. O casamento, que deveria ser um porto seguro de amor e compreensão mútua, transformou-se em um campo minado de desejos incompatíveis e expectativas frustradas.

 

Veralice, cansada e desgastada por essas imposições, começou a questionar não apenas o futuro de seu relacionamento, mas também sua própria identidade e valores. A mulher que um dia deixara tudo para trás por uma promessa de amor e felicidade agora se perguntava se o preço pago por essa nova vida não fora alto demais. Ela se encontrava em um limiar, forçada a tomar decisões que moldariam não apenas seu destino, mas o de seus filhos, em busca de um caminho que lhe permitisse redescobrir a dignidade e o respeito por si mesma.

 

Diante das turbulências em seu casamento e do desgaste emocional causado pelas exigências de Antônio Carlos, Veralice encontrou refúgio em um interesse antigo: a medicina. Esse fascínio, que havia sido colocado de lado por anos devido às circunstâncias de sua vida pessoal, ressurgiu como um farol de esperança e propósito. Com determinação renovada, Veralice decidiu perseguir o sonho de se tornar médica, vendo na educação e na carreira uma chance de redefinir sua identidade e seu futuro.

 

Sua jornada acadêmica começou com um feito admirável: ser aprovada em uma renomada faculdade pública do Rio de Janeiro. Este sucesso inicial foi um sopro de autoconfiança, mas também o início de uma nova batalha. Antônio Carlos, longe de apoiar sua esposa, tornou-se uma fonte constante de desestímulo. Suas palavras eram lâminas afiadas, questionando a capacidade de Veralice, diminuindo suas conquistas e prevendo um fracasso que, segundo ele, seria inevitável. Ele acreditava que a medicina era uma perda de tempo para Veralice, que ela jamais se destacaria ou faria diferença alguma naquele campo.

 

Contudo, Veralice, munida de uma força interior que nem ela sabia possuir, escolheu ignorar as críticas e seguir em frente. Sua dedicação e paixão pela medicina só fizeram crescer, guiando-a através dos desafios da graduação até a residência médica. Foi nesse ambiente, cercada de desafios e aprendizados constantes, que Veralice encontrou o Dr. Felipe. Diferentemente de qualquer coisa que ela havia vivenciado com Antônio Carlos, a conexão com Felipe foi instantânea e profunda, uma verdadeira explosão de paixão que reacendeu em Veralice a chama da esperança e do amor.

 

Confrontada com a realidade de um casamento que há muito havia se tornado uma prisão emocional, e agora armada com a clareza de seus sentimentos por Felipe, Veralice tomou a decisão mais difícil e libertadora de sua vida: pedir o divórcio de Antônio Carlos. Ele, consumido pela arrogância e incapaz de reconhecer o valor e a força de Veralice, recebeu a notícia com fúria, mas aceitou a decisão, acreditando piamente que ela se arrependeria, que sem ele, Veralice não teria 'onde cair morta'.

 

No entanto, o que Antônio Carlos falhava em perceber era que Veralice já havia encontrado seu chão, sua paixão e sua verdadeira vocação. Ela não estava mais definida pelas sombras de um casamento falho ou pelas limitações que ele tentou impor. Veralice estava, pela primeira vez em muito tempo, tomando as rédeas de sua vida, pronta para explorar os novos horizontes que se abriam à sua frente com a medicina e, possivelmente, um novo amor ao lado do Dr. Felipe.

 

A decisão de Veralice de se divorciar de Antônio Carlos e seguir seu coração, embora libertadora, veio com seu próprio conjunto de desafios, especialmente no que diz respeito aos seus filhos, César e Marcos. A separação provou ser um período tumultuado para os meninos, que se viram no meio de uma batalha de custódia dolorosa e confusa. Antônio Carlos, usando sua influência e recursos, conseguiu a guarda das crianças, alegando que Veralice, em meio à sua transição de carreira e vida pessoal, não teria condições de oferecer aos filhos a estabilidade e o futuro próspero que ele poderia.

 

Começando do zero, Veralice enfrentou a dura realidade de estar separada de seus filhos e ter que reconstruir sua vida praticamente do nada. No entanto, ela não estava sozinha nessa nova jornada. Dr. Felipe, que se tornou seu porto seguro e companheiro, estava ao seu lado, oferecendo não apenas amor, mas também apoio incondicional. Juntos, eles decidiram morar juntos, uma escolha que Veralice sabia que levantaria polêmica, mas que era essencial para o início de sua nova vida.

 

A relação entre Veralice e Dr. Felipe, inicialmente mantida em segredo, tornou-se pública quando decidiram se casar pouco tempo depois. A notícia do casamento e da nova vida de Veralice com Felipe chegou aos ouvidos de Antônio Carlos, que reagiu com fúria e incredulidade. Para ele, a ideia de Veralice reconstruir sua vida, especialmente ao lado de outro homem, era inconcebível. Seu orgulho e raiva o consumiram a tal ponto que tomou a decisão drástica de se mudar para São Paulo, onde poderia se concentrar em sua carreira na emissora de televisão da qual era sócio, longe das lembranças e do que considerava traições de Veralice.

 

Esta mudança não só marcou o fim de um capítulo tumultuado na vida de Veralice e Antônio Carlos, mas também o início de uma nova fase para ambos. Para Antônio, era uma tentativa de recomeçar em um novo ambiente, buscando sucesso e principalmente vingança. Para Veralice, representava a oportunidade de, finalmente, viver sua verdade, perseguir sua paixão pela medicina e construir uma nova família ao lado de Felipe, mesmo diante dos desafios de estar distante de seus filhos.

 

A dor da separação e a luta pela guarda das crianças permaneceriam como uma sombra sobre a felicidade de Veralice, mas ela estava determinada a lutar pelo direito de fazer parte da vida de seus filhos. Em meio a essas tribulações, a força de Veralice se revelou, mostrando que mesmo nos momentos mais sombrios, a esperança de um novo começo pode brilhar intensamente.

 

A descoberta de que Antônio Carlos havia se mudado para São Paulo levando consigo César e Marcos sem seu conhecimento foi um golpe devastador para Veralice. Sentindo-se impotente e desesperada, a distância entre ela e seus filhos tornou-se não apenas física, mas também emocional, uma barreira que parecia intransponível. A dor da separação foi intensificada pela incerteza e pelo medo do desconhecido: onde estariam seus filhos? Estariam seguros e felizes?

 

Determinada a reencontrar seus filhos a qualquer custo, Veralice embarcou para São Paulo, uma cidade que agora parecia hostil, marcada pela presença de Antônio Carlos. Sua primeira parada foi a emissora de televisão onde ele trabalhava, mas as portas foram fechadas para ela, um símbolo palpável da rejeição que enfrentaria. Não deixando que isso a detivesse, Veralice recorreu à polícia, buscando não apenas justiça, mas também a chance de ver seus filhos novamente.

 

Com a polícia ao seu lado, Veralice finalmente conseguiu confrontar Antônio Carlos na emissora de televisão. Ele, talvez temendo as implicações legais ou simplesmente desejando evitar um escândalo, permitiu que Veralice visse os filhos. No entanto, o reencontro tão ansiado transformou-se em um momento de dor e rejeição: César e Marcos, influenciados por Antônio Carlos, recusaram-se a ver a mãe.

 

Antônio Carlos havia cometido o ato cruel de alienação parental, envenenando os corações dos filhos contra Veralice, acusando-a de traição e abandonando-os. As crianças, já com sete e oito anos, confusas e feridas, haviam absorvido a narrativa do pai, tornando-se irredutíveis em sua recusa em ver Veralice. A percepção de que seus próprios filhos haviam se voltado contra ela foi um tormento para Veralice, uma ferida emocional profunda que superava qualquer outro desafio que ela já havia enfrentado.

 

Diante dessa dolorosa realidade, Veralice viu-se em um impasse. O sonho de reunir sua família estava agora entrelaçado com a necessidade de reconstruir os laços rompidos com seus filhos, de mostrar-lhes a verdade além das mentiras semeadas por Antônio Carlos. A jornada de Veralice em São Paulo tornou-se não apenas uma busca pelos seus filhos, mas também uma luta pela verdade, pela justiça e pela oportunidade de curar as feridas abertas pela alienação parental.

 

A determinação de Veralice em enfrentar esses desafios revelou a profundidade de seu amor maternal, um amor que se recusava a ser silenciado pela distância, pelas mentiras ou pela rejeição. Em meio à tempestade de emoções e obstáculos, Veralice permaneceu resiliente, disposta a lutar até o fim para reconquistar o coração de seus filhos e restaurar a unidade de sua família, mesmo que isso significasse enfrentar os maiores desafios de sua vida.

 

Após anos de lutas e desilusões, Veralice havia se tornado uma figura respeitada na medicina, uma médica renomada no Rio de Janeiro cuja vida pessoal, contudo, carregava as cicatrizes de relacionamentos que não conseguiram florescer. As sombras do passado e as consequências de suas escolhas amorosas haviam deixado Veralice cautelosa quanto ao coração, fazendo-a focar na carreira e na esperança, ainda que tênue, de reconectar-se com seus filhos.

 

A decisão de Marcos, o filho caçula, de procurar Veralice após tantos anos de distância e silêncio, foi um raio de luz inesperado em sua vida. Agora com 27 anos, Marcos carregava consigo as dúvidas e a necessidade de entender a história de sua família sob uma nova perspectiva. A conversa entre mãe e filho, marcada por emoções profundas e anos de histórias não contadas, foi um momento de catarse e compreensão mútua. Marcos, reconhecendo o peso das palavras e ações de seu pai ao longo dos anos, pediu perdão a Veralice, expressando o desejo de não apenas reconstruir seu relacionamento, mas também de fazer parte da vida dela de maneira significativa.

 

A aceitação de Veralice em receber Marcos em sua vida e oferecer-lhe um emprego em sua clínica foi mais do que um gesto de reconciliação; foi um passo em direção à cura de feridas antigas, uma chance para mãe e filho redescobrirem um ao outro e tecerem novos laços de carinho e apoio. Esta nova etapa em suas vidas marcava o início de um capítulo de redenção e amor reconstruído.

 

No entanto, a notícia da reaproximação de Marcos e Veralice não foi recebida com alegria por todos. Antônio Carlos, ao descobrir sobre a nova dinâmica entre seu filho caçula e sua ex-esposa, sentiu-se traído. A decisão de Marcos de se aliar a Veralice, na visão de Antônio, era um ato de deslealdade, um golpe contra as narrativas e as crenças que ele havia incutido em seus filhos ao longo dos anos. Consumido por um sentimento de perda e traição, Antônio Carlos voltou sua atenção e suas inseguranças para César, o filho mais velho, que estava estudando nos Estados Unidos. Assombrado pelo temor de perder o controle sobre César da mesma forma que sentia ter perdido Marcos, Antônio intensificou seus esforços para manter uma influência sobre as decisões e o futuro de César, tentando a todo custo evitar que a história se repetisse.

 

Este momento de reencontro e reconciliação entre Veralice e Marcos, embora belo e promissor, também revelou as complexidades e as feridas ainda abertas dentro da dinâmica familiar, mostrando que a jornada em direção à compreensão e ao perdão é repleta de desafios, mas também de possibilidades para a cura e o amor.

 

O tempo que César passou no exterior foi um período de profunda reflexão e crescimento pessoal. Distante da influência direta de seu pai, ele começou a questionar as verdades que haviam sido impostas a ele desde a infância. A figura de Antônio Carlos, antes imponente e incontestável aos olhos de César, começou a se desfazer, revelando um homem autoritário, controlador e, em muitos aspectos, mentiroso. A decisão de Marcos de se reconectar com Veralice e a subsequente aproximação entre mãe e filho não passaram despercebidas por César, que viu nessa mudança uma oportunidade de questionar sua própria relação com a família e, em especial, com sua mãe.

 

Movido pela curiosidade e pelo desejo de compreender sua história sob uma nova luz, César convidou Veralice e Marcos para passar alguns dias com ele em sua casa no Brooklyn. Esse encontro familiar, longe das sombras do passado e das manipulações de Antônio Carlos, foi marcado por uma semana de amor, descobertas e reconexão. Pela primeira vez em muitos anos, a família experimentou a alegria da união sem reservas, um momento de paz que permitiu a todos vislumbrar o que poderia ser uma vida juntos, baseada na honestidade e no afeto mútuo.

 

No entanto, como todas as coisas boas, esse momento de reencontro e afeto terminou, e cada um voltou para sua rotina, levando consigo as memórias e os sentimentos renovados daquela semana especial. César, com seus estudos nos Estados Unidos chegando ao fim, viu-se diante de uma decisão crucial: voltar para o Brasil e para a vida que conhecia ou trilhar um novo caminho, guiado pelos laços recém-refeitos com sua mãe e irmão.

 

A escolha de César foi surpreendente para muitos, especialmente para Antônio Carlos. Contrariando as expectativas de seu pai, César não retornou para São Paulo, mas sim para a casa de Veralice, decidido a reconstruir sua vida no Brasil ao lado de sua mãe e irmão. Essa decisão não foi apenas um ato de rebelião contra a autoridade e controle de Antônio Carlos; foi uma afirmação da autonomia de César e de seu desejo de buscar a verdade e o amor nas relações familiares.

 

A chegada de César à casa de Veralice marcou o início de uma nova era para a família, uma era de laços refeitos e de possibilidades ilimitadas. Para Antônio Carlos, a escolha de César representou uma perda irrecuperável, uma falha em seu controle que ele jamais imaginou possível. No entanto, para Veralice, Marcos e César, foi um passo em direção a um futuro no qual os erros do passado poderiam ser curados e onde o amor familiar, longe das sombras da manipulação e do controle, poderia finalmente florescer.

 

A reconexão de Veralice com seus filhos marcou o início de um capítulo repleto de esperança e novas possibilidades. Com César e Marcos agora ao seu lado, a casa de Veralice, situada diante do imenso e tranquilo mar, tornou-se um lar de verdade, um refúgio onde as feridas do passado começavam a cicatrizar sob o calor do sol e o som suave das ondas. Observando seus filhos, já adultos, brincando e rindo juntos na areia, jogando vôlei com a liberdade e alegria que só a proximidade do oceano pode inspirar, Veralice sentiu uma paz profunda, um sentimento de completude que há muito tempo lhe escapava.

 

Foi nesse momento de contentamento tranquilo que uma figura surgiu do mar, aproximando-se com passos decididos em sua direção. A voz que chamou seu nome trouxe consigo memórias de um tempo distante, de uma vida que poderia ter sido, mas que foi deixada para trás.

 

— É você, Veralice?

 

A surpresa de Veralice ao reconhecer Rosalvo, seu primeiro amor, foi palpável. O tempo havia traçado suas linhas nos contornos de seu rosto, mas os olhos eram os mesmos, repletos de uma familiaridade que despertou em Veralice sentimentos há muito adormecidos.

 

Rosalvo, o homem a quem ela prometera seu coração na juventude, antes que a vida os levasse por caminhos distintos, estava ali, diante dela, como uma lembrança viva de tudo o que havia sido e tudo o que não fora. A presença dele, inesperada e repentina, fez Veralice sentir-se vulnerável, como se o simples fato de vê-lo pudesse desvendar as camadas de força e determinação que ela construíra ao longo dos anos. No entanto, junto à vulnerabilidade, havia também um vislumbre de curiosidade e de um leve tremor de excitação: a ideia de que o destino, após tantas voltas e reviravoltas, ainda reservava surpresas para ela.

 

O reencontro com Rosalvo não era apenas um eco do passado; era um sinal de que a vida, com todas as suas marés imprevisíveis, ainda tinha histórias a contar. Para Veralice, que havia enfrentado tempestades e navegado por águas turbulentas para encontrar um porto seguro ao lado de seus filhos, a aparição de Rosalvo naquele dia ensolarado à beira-mar era um lembrete de que o amor, em suas muitas formas, nunca deixa de fluir e se renovar.

 

Enquanto os risos de César e Marcos preenchiam o ar e a brisa marinha acariciava seu rosto, Veralice permitiu-se contemplar as possibilidades que esse encontro inesperado poderia trazer. Talvez fosse o momento de abrir seu coração para novas experiências, de reconhecer que, mesmo após anos de luta e sofrimento, a capacidade de se surpreender e se encantar com a vida permanecia intacta. Com Rosalvo diante dela, trazendo consigo as marés do destino, Veralice enfrentava o futuro com uma mistura de nostalgia, esperança e a doce antecipação das surpresas que ainda estavam por vir.

 

■ Por Richard Günter

Jornalista, Escritor, pós-graduado em Roteiro Audiovisual e graduando de Cinema

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